Estou de volta depois de uma grande ausência, mas não por falta de interesse em publicar minhas peripécias, a verdade nua e crua é que a internet do hotel era três reais a hora e com três reais dava pra comprar uma empadinha e quatro brigadeiros na tia do lanche, e eu estava matando por três reais ou por qualquer coisa que fosse comestível, aliás.
Foi uma boa e longa semana, só que eu estava sentindo falta de casa. Já a algum tempo eu estava de visita. Não aguento mais olhar para minha mala! De qualquer maneira, eu estou preta-carvão, afinal minha pele abraça qualquer oportunidade de aflorar a mela nina que fica escondidinha 355 dias no ano! Pelo menos eu não tenho que passar horas deitada no melhor estilo frango, com uma toalha no rosto e um bronzeador a tira colo, o único inconveniente foi meu oclããão marcou meu rosto depois do segundo dia ensolarado, mas já deixei de ser cor sim cor não, para ser apenas cor sim e bota sim nisso.

Como eu tive vestibular, todo o pessoal foi antes de mim, já que o hotel tinha reserva fixa e perderiam um dia se precisassem me esperar. Portanto, no domingo 11 eu cheguei de mala (sem cuia) e me instalei junto com todos os primos, tios, pais, irmãs, namorado e inclusive cunhada no apartamento. No fim do dia, os jovens desceram para a habitual roda em volta da piscina para trocar, no caso da minha família, má criações, falar mal da mãe um do outro e praticar um pouco nosso poder de retaliação. O que nós não sabíamos era que teríamos uma experiência extra-mundana. A moça do bar do hotel levou suas duas crianças para o trabalho e é aí que tudo começa. Eu resolvi comprar bala, porque um doce faria bem a todo aquele fuzuê de "sua mãe é a *** boca de ouro" "sua mãe é tão gorda que...", então depois de comprar umas 40, eu já ia voltando quando fui interceptada. "Oi, me dá UMA?" [sempre acrescentando várias oitavas na última palavra], perguntou uma (até então) doce garotinha, eu, ingénua, dei. Foi aí que o irmão dela entrou em cena, um pirralho de no máximo 4 anos olhou para mim e disse "uuka uu aaaa", eu dei uma bala pra ele também e fui embora. Assim que sentei com o pessoal, os dois se aproximaram e começaram a mostrar sinais de anormalidade. A menina ria e segurava uma cadeira de plástico, o garoto pulava e, ia chegando cada vez mais perto. Um dos meus primos resolveu entrar em contacto, disse "Oi!", ao que o menino respondeu: "aioooo paraium mamakaoi". Resolvendo entrar no jogo, disse: "Makim kaka ooupiooo" e, como o garoto permanecia vidrado e (o pior de tudo) parecia entender, o meu primo virou para nós e disse "Eu perguntei o nome dele." Foi a deixa para todos nós cairmos no riso, eu já não conseguia parar de rir, enquanto o Rafael olhava para o garoto e dizia "Makika Makika uauá", o que acabou tornando-se o nome do menino. A irmã dele resolveu se aproximar, e ela pelo menos, falava nossa língua. Perguntamos quantos anos ela tinha e ela respondeu 2, 4, 6 e 10. Então ficou resolvido que ela teria entre 0 e 16 anos. Depois de um tempo de "akarta kuku hugapu papa", nós entramos em desespero para que os dois fossem embora. Foi quando resolvemos ignorá-los. Missão impossível. Os dois provaram ser diabólicos, gritavam a todo vapor "MAKIKA UAUÁ KUKU PARAPI KAKA", o plano B foi tentar convencer a irmã a levá-lo de volta para a mãe, então depois de uma conversa seríssima com ela, a menina tentou segurar o irmão pelo braço, o que não foi a melhor maneira de lidar com nosso velho Makika, que deu-lhe um soco e uma mordida no braço, ao passo que a menina se desvencilhava e abria o maior berreiro de todos os tempos. Tentamos suborno, intimidação, susto, súplica e impaciência até que, por fim, esperamos ele se distrair, e saímos correndo mesmo. Todos os 10 nos escondemos num canto escuro do hotel, morrendo de medo de que ou a garotinha diabólica ou seu irmão alienígena nos visse e resolvessem bater um papinho camarada.
Beijos!
Rê.